Saudação
de Paulo Flávio Ledur, por ocasião da transmissão de cargo de Patrono a
escritora Ariane Severo, escritora caçapavana Patrona da Feira do Livro de
2018:
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Escritor Paulo Ledur, imagem de Juliano Porto |
1.
Minha ligação com a Feira do Livro de Caçapava
Minha
ligação com Caçapava do Sul, em especial com sua Feira do Livro, já soma mais
de 20 anos. Em cerca de dez ocasiões, fui distinguido com convites para
palestras, oficinas e cursos. Desde aquele primeiro “ô de casa”, criou-se em
mim o sentimento de cidadão caçapavano, de pertencer a esta linda comunidade.
Tudo isso culminou com a homenagem
cultural máxima que um caçapavano pode almejar: ser patrono da Feira do Livro
de Caçapava do Sul. Foi exatamente isso que meus amigos desta terra reservaram
para mim no ano passado, o que me fez sentir o mais feliz dos conterrâneos.
Desde a minha primeira participação
neste evento fui alimentando a sensação que virou convicção: a Feira do Livro
de Caçapava do Sul é a mais organizada, autêntica, abrangente e popular do
interior do Rio Grande do Sul. Justifico:
Primeiro: é a mais organizada, porque
realizada por uma equipe coesa formada por voluntários da cultura do Município
e que se autoconstituiu, não havendo qualquer ato formal que a nomeasse. Uma
equipe que há mais de dez anos espontaneamente se submete à natural liderança
de seu coordenador, Pedro Vanolin. Uma equipe em que não há disputa de espécie
alguma. Uma equipe movida a entusiasmo em que cada um tem suas funções a
cumprir. Uma equipe em que todos se dão as mãos. Uma equipe que sabe granjear o
apoio dos diversos segmentos comunitários que compõem a sociedade caçapavana,
incluindo a Igreja Católica, que cede gratuitamente este importante espaço, e
de outras confissões religiosas. Uma equipe que conquistou o apoio dos poderes
Executivo e Legislativo do Município. Uma equipe com o entusiasmo dos amadores,
mas organizada dentro das melhores técnicas de administração. É óbvio que um
evento assim conduzido só pode primar pela organização.
Segundo: é a mais autêntica, porque tem
como foco principal os valores culturais do Município e da região em que este
está inserido. Todas as manifestações culturais típicas desta terra são
convidadas a participar. Prova isso também a escolha do patrono, que a cada
dois anos recai sobre algum escritor do Município, como é o caso deste ano.
Terceiro:
é a mais abrangente. Durante o período de realização do evento, passam por aqui
não apenas as letras representadas pelos escritores e sua obras, mas também a
música, o teatro e a dança, em suas variadas formas, são aqui contemplados. A
educação está sempre aqui de corpo e alma, certamente como a área mais
beneficiada pelo evento, graças ao indispensável objetivo pedagógico de termos
estudantes leitores. Também a saúde e as importantes ações sociais
desenvolvidas no Município, como é o caso da APAE, participam ativamente. Outro
bem essencial na vida do cidadão caçapavano é o cultivo da espiritualidade,
representada aqui por variadas crenças, em desejável convivência ecumênica.
Quarto:
é a mais popular, pois está de portas abertas a todos os cidadãos, não
distinguindo qualquer segmento social, econômico, de credo, de raça ou outra
forma qualquer de discriminação. São espetáculos culturais diários de variada
ordem, colocados gratuitamente à disposição de todos, caçapavanos ou não.
2.
Saudação à patrona Ariane Severo
Por
fim, minha saudação muito especial e carinhosa à escritora e psicanalista
ARIANE SEVERO, ilustre filha desta terra e mais uma prova de que a fruta não
cai longe do pé, já que integra família de importantes intelectuais, como o tio
José Antônio Severo, patrono da 26.ª edição desta Feira, e o pai, Rivadávia
Severo, que também já foi patrono. Passar à Ariane honraria tão especial como a
de Patrona da Feira do livro de Caçapava do Sul, além de significar para mim
extraordinário privilégio e incomparável prazer, é também uma oportunidade
ímpar de testemunhar publicamente minha admiração pelo fulminante crescimento
que ela alcançou nos últimos anos como escritora hoje plenamente afirmada nas
letras rio-grandenses e brasileiras, conquista que atribuo não apenas a dotes
naturais inscritos em seu DNA, mas, sobretudo, ao seu entusiasmo e denodo no
cultivo da estética literária e no estudo das grandes causas que movem a
humanidade.
Prova maior disso é seu último livro:
NINA, Desvendando Chernobyl, uma narrativa marcante desenvolvida em torno do
desastre que representou o vazamento, em 1986, na Usina Nuclear de Chernobyl,
na então União Soviética. Foi uma das maiores tragédias vividas pela humanidade,
que matou centenas de milhares de pessoas e deixou terríveis sequelas para os
próximos milênios.
Com rara desenvoltura, lançando mão da
psicanálise e dominando por inteiro a arte literária, Ariane desvenda os mais
íntimos rincões da alma humana, revelando profundos, doloridos e aparentemente
imperceptíveis sentimentos que mexem com as sutilezas da dignidade humana.
A preocupação da Ariane em torno das
tristes consequências de tragédias como a de Chernobyl se estende a outras
áreas do mundo, como o Japão, onde, em 2011, ocorreu o acidente nuclear de
Fukushima, e chega ao nosso país, fixando-se no desastre de Mariana, mas não
deixando de passar pelo acidente radiológico ocorrido em Goiânia em 1987.
Pelo nível estético do texto, pela
abordagem que faz e pelas emoções que provoca no leitor, tenho a profunda
convicção de que Nina fará a trajetória que só as grandes obras literárias
podem alcançar.
Mas, esta é apenas uma das diversas
obras da autora aqui homenageada, como revela a sucinta biografia publicada
numa das abas do livro. Apesar disso, tenho a clara sensação de que a carreira
literária de Ariane Severo está apenas começando. O que produziu até esta data
é apenas um espelho da brilhante carreira literária que está sendo traçada.
Por isso e pelos sentimentos de
respeito, admiração e amizade que nutro por Ariane Severo, é com muito orgulho
que lhe transfiro o comando do patronato da Feira do Livro de Caçapava do Sul.
Muito
obrigado, caçapavanos!