Por
Zauri Tiaraju Ferreira de Castro
Ipageú Teixeira de
Macedo boleou a perna na Província de São Pedro do nosso Rio Grande no serro de
Caçapava do Sul, no dia 21 de dezembro de 1945 e invadiu o mundo com a altivez
e a estampa ímpar de um xucrismo consentido que pude encontrar tradução e
compreensão nos versos simples e cheios de significado de uma obra antológica
do cancioneiro gaucho:
“Pode me olhar que a
mina estampa é de fronteira
Minha alma xucra evoca
meus ancestrais
Velhas tropeadas por
estâncias sem porteiras
Estouros rudes e
cascos de mil baguais.”
Essa estampa a que me
refiro começou a ser construída ainda na tenra idade. Aprendeu a acorelhar as
letras lá pelo Rincão dos Três Passos, depois gauderiou por São Sepé, Santa
Maria, Caçapava do Sul e Bagé.
Já mais taludo, sempre
na senda das suas origens, foi estudar na Escola Técnica de Viamão. Foi lá no
convívio do Centro de Tradições Gaúchas – CTG – da escola, sentindo saudades da
família, carências amorosas e contatos mais estreitos com colegas de outras querências,
reunidos para musicar em prosa e verso, entre um mate e um causo, cultuando e
trançando raízes, que iniciou a professar institucionalmente a sua cultura riograndense.
De volta a Caçapava,
encontrou esse movimento ainda insipiente, adormecido, visto que a prof Clara
Haag que havia fundado um grupo de danças mudara para Porto Alegre.
Encontrou na Escola
Estadual Nossa Senhora da Assunção – EENSA – o Professor Mutilo Dias, também remanescente
da Eta e o Araré Brum, já tendo participado de um CTG em Cachoeira do Sul.Flor de entusiasmos,
fundaram o Grupo Folclórico Carreteiro da Saudades, Chimangos e Camabarás.
Buscaram o apoio do
Instituto de Tradições e Folclore para instruir o grupo de danças e organizaram
a parte cultural das Semanas Farroupilhas. Havia reverencia juvenil e a
participação da comunidade para os concursos de gastronomia, música, poesia,
danças (que lindas lembranças). Até julgaram Sepé Tiarajú perante a história
com as célebres participações de Nico Fagundes e Alcides Saldanha.
Por essa época de
67/68 Ipageú esteve na vanguarda da construção do galpão do EENSA que nós
alcunhamos de o Galpão dos Carreteiros, inclusive com dispêndio financeiro
voluntário.
Ipageú cantava,
dançava, declamava e apresentava o programa Carreteando pelos Pagos pela Rádio
Caçapava nos sábados à tarde. Sempre muito preocupado e irrequieto e responsável,
foi Diretor Municipal de Cultura e Turismo na administração do Prefeito Ciro
Carlos de Melo.
Conheci o Ipageú de
bombacha arremangada a meia canela, de alpargatas, de boina, amadrinhado e
depois ajojado com a Sandra, seu contra mestre no alambrado da vida, também
merecedora desta homenagem que hoje acontece. Pois, nunca vi um deles apartado
do outro e seus caminhos se confundem com o tempo. Arrisco a dizer que só mesmo
a Sandra seria capaz de complementar as andanças deste guauério arisco e ainda
não domado de baixo e que por certo irá morrer de queixo duro e lombo liso.
E finalizando, Excelência,
vou bolir seu coração, continuarás gauchão, por certo com prepotência, ficarão
tuas vivências, porque é Deus que te concede e é o Rio Grande que pede. Sou seu
mensageiro, continuarás por inteiro no intenso ardor que Procede.
E hoje fica marcado
como um reconhecimento, para perpetuar esse momento de todos no teu costado.
Revivido o teu passado onde fizestes barulho pra apresilhar com orgulho dos que
não andam sozinhos, te tapamos de carinho e te abraçamos com júbilo.
Gostei muito desta homenagem feita pelo Zauri Tiaraju. Certamente que o Ipageú também gostou, pois me parece mostrar bem o seu perfil, a sua dedicação à Cultura Gaúcha em todos os seus aspectos. Obrigado Zauri por aceitar esta missão da nossa Feira do Livro.
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