Patrono 2019 - Gujo Teixeira

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Feira do Livro de Caçapava do Sul

terça-feira, 7 de maio de 2013

Saudação aos escritores caçapavanos da XXIII Feira

Por Jacques Duarte Cassel

Nossa saudação ao patrono da 23ª feira do livro,escritor Airton Ortiz, aos escritores aqui presentes, autoridades. 

Nossa saudação também ao escritor Francisco Pereira Rodrigues- um homem que ama os livros- escritor homenageado deste ano, e que, no dia 23 de abril passado, completou  cem anos, justamente no Dia Internacional do Livro. Um povo,uma pátria, não devem ser avaliados apenas por sua pujança econômica,  mas,sobretudo, pela preservação de sua memória,por sua produção cultural,educacional,serviços públicos,iniciativas comunitárias e gentileza ecológica e social.

Sem memória não há existência, nem haverá.
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Com imensa satisfação, saudamos os escritores aqui presentes, guardiões e difusores da nossa memória histórica, poética, sentimental, social, geográfica. Comungam eles do mesmo sentimento regional das cidades pampeanas em que nasceram, e suas relações com a América Latina, em especial com o cone sul.Produziram e produzem obras com caráter regionalista que transcendem para o universal.

Caçapava, Bagé, Lavras do Sul ombreadas e irmanadas na produção literária. Dentro da velocidade dos fatos de um mundo que orbita meteórico no efêmero, dentro dos dias velozes e fugazes, as feiras do livro da clareira na mata transformam-se em clareiras de reflexão e demonstração de algumas das interfaces mais nobres da humanidade : a literatura,a música,o teatro,o cinema,a cultura.

Caminhos do sul da América cujos autores Johnatan Osório, Lislair Leão Marques, Marcelo Spode e Maximiliam Fries nos fazem viajar e nos presenteiam com belas imagens do Uruguai, Chile, Argentina e de nossa bela Caçapava do Sul. Caçapava tem destaque na obra, e como escreveu Carlos Drumond de Andrade: o homem deve “por o pé no chão de seu coração” e o livro põe o pé no chão-coração de Caçapava, revelando, com beleza, seu patrimônio natural,cultural,arquitetônico. Em sua 2ª edição é composto de mais fotografias e textos em português e espanhol. Em breve será lançado em e-book. Sua proposta é a aproximação dos povos latinos e a integração cultural e turística de Caçapava com estes povos. Uma iniciativa inteligente para o desenvolvimento de nossa cidade.

Luiz Carlos Molina - bageense, produtor rural e formado em ciências contábeis,  é autor de “Meu pago é assim” e “Um rastro campeiro”- poesias escritas com alma campeira, por quem nasceu no campo e vivenciou suas lidas e costumes. Contêm admirável vocabulário gauchesco – um patrimônio vocabular-,rimas ricas, certeiras como a suerte do jogo de osso e vigorosas como cavalos em disparada nas coxilhas. Na belíssima “A Estrela D’alva e o peão”: “À noite o moço mirava o céu bordado de estrelas, e assobiava e cantava , apreciando o Universo,pensando que o longe é perto,brincando de namorar”... Em “Jogo de Osso”: “Feitas as jogadas na volta,a banca ordena atirar,sai o osso se volteando, de algum braço que cimbrando , busca a sorte prá ganhar”. “O velho Franklin” é o segundo livro de Alfredo Laureano de Brum Sobrinho. Na Feira do Livro de Caçapava de 2012 lançou o autobiográfico“Doces Lembranças”,escrito durante o período de permanência em uma cadeira de rodas, acometido que foi por uma polineuropatia. O escritor é natural de Jari. Trabalhou 30 anos na Caixa Econômica Federal, e sempre foi um apaixonado por histórias,contos e causos. Com esta bagagem escreveu “O velho Franklin”,que é baseado em fatos reais. É um livro de uma linguagem simples,familiar, realista, que perpassa a vida de Franklin e nos estimula a fazer uma reflexão sobre a vida e a solidão na terceira idade.Nos mostra ,também,o quão podemos aproveitar pequenos-grandes momentos, como contar histórias,por exemplo. No início tem poesia:”... janela com vistas para um jardim localizado na área lateral da residência,de onde se podia ver flores vermelhas,amarelas e brancas,misturas de begônia,onze- horas,sempre-vivas,jasmin e roseiras,algumas um tanto maltratadas pelas formigas ou necessitando de um aterramento nos pés e uma poda na época certa, para que apesar dos anos não tivessem seu aroma prejudicado, permitindo assim que sua essência pudesse entrar na vida dos homens.”

“Os Lírios do Alvorecer” é de autoria de Ivan Pessoa Moreira. Ivan e a poesia. “A palavra sem algema ,eis o poema”, escreveu outro poeta: Carlos Cassel.
Foi colaborador dos jornais A Atualidade, Folha do Sul, O Bom, Folha da Cidade e Razão. É acadêmico vitalício da Real Academia de Letras, recebeu a Comenda Literária  Camões no 12º Prêmio Cultura Nacional, diplomado com Menção Honrosa no 7º Concurso de Poesia Nacional,também recebeu o Diploma de Mérito Internacional Humanitário e Comenda da Paz. Participou de antologias do Instituto da Poesia Internacional, Casa do Poeta Caçapavano, da Ordem da Confraria dos Poetas do Brasil e Real Academia de Letras. Também lançou em 2012: “Florada da Alma” e “Inquietude do Íntimo”.

Em “Centelhas”: quem afirma que alguém é certo ou louco, por certo é um louco”; em “Eus,meu Eu”: “Mas sou eu nos meus eus, que dormem e acordam, como um sopro de vento”.

“Pela Palavra Empenhada/ A Revolução de 1932”, obra de Blau Souza e Zeno Dias Chaves que aborda a rebelião constitucionalista de 1932 tendo como foco os fatos acontecidos no Rio Grande do Sul, que tinha como interventor Flores da Cunha. Como em todo o governo autoritário-atitudes também -, as discordâncias e a imprensa foram perseguidas e sufocadas.

O Dr. Blau Souza ,natural de Lavras do Sul, é cirurgião cardiovascular  em Porto Alegre, produtor rural em Lavras do Sul,teve participação ativa em entidades médicas – AMRIGS,CREMERS e SIMERS -, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, da Academia Sul-Riograndense de Medicina e da Academia Sul-Brasileira de Letras. Médico-escritor como foram Guimarães Rosa,Moacyr Scliar, Cyro Martins, Dyonélio Machado, Prado Veppo, José Antonio do Vale, entre muitos. José Antonio do Vale acrescentou Caldre e Fião a seu nome, e escreveu o primeiro romance de autor gaúcho: “A Divina Pastora”,em 1847,quando foram lançados dois volumes, que ficaram desaparecidos por 145 anos, reaparecendo um deles no Uruguai em 1992 – relato de um artigo do Dr. Blau. Caldre e Fião tem uma história rica e muito interessante.

Como médico que também atua no serviço público de saúde, o Dr. Blau conhece as imensas dificuldades inerentes a esta complexa atividade, que só pode ser realmente aquilatada por quem a vivencia. Um sistema de saúde perverso ,não só com pacientes, mas com quem nele trabalha. Participou de duas antologias: a série “Médicos (Pr) escrevem” e “As Guerras dos Gaúchos”.

Com estilo elegante, fluido e erudição transmutada em simplicidade. Em sua produção constam textos científicos, artigos para jornais e  quatro livros: “Poesia,Cotidiano e Sonho”, “Contos do Sobrado”, “De Todo Laço” e “Uma no Cravo ,Outra na Ferradura”, este uma fascinante aula de história gaúcha. Entre tantas, a história do pintor alemão aqui radicado, Hermann Rudolf Wendroth.
Em um artigo de “Medicina e Literatura”: “Na medicina de hoje ,quando a tecnologia se hipertrofia, há necessidade de um humanismo, que dificilmente será encontrado em tanta abundância quanto na literatura.”

Zeno Dias Chaves, coautor de “Pela Palavra Empenhada” é um de nossos historiadores. Seu livro “Caçapava do Sul,História , Tradição e Natureza” , nos enriquece de conhecimentos sobre nossa história,desde os seus primórdios. O seu Zeno é nossa memória cultural e histórica. Foi vereador por duas legislaturas, diretor da COOPAM, Secretário Municipal de Turismo, diretor artístico e cultural e patrão do CTG Sentinela dos Cerros, sócio fundador de diversas entidades tradicionalistas em Caçapava e em outras cidades do estado. Também foi coordenador da 18ª Região Tradicionalista, conselheiro do Movimento Tradicionalista Gaúcho por 12 anos e presidente durante 3 anos.Foi patrono da X Feira do livro de Caçapava. Profundo conhecedor de história e folclore, recebeu o prêmio Negrinho do Pastoreio, em 1988.

Alcy Cheuiche escreveu: “Agora fico admirando a fotografia de Zeno Dias Chaves no seu livro e penso o quanto Caçapava do Sul deve a este filho ilustre. Sentado no alto da muralha do Forte Dom Pedro ll, ele revela, na sua simplicidade campeira, toda a “estampa de monarca”do cidadão gaúcho. Por detrás dele, a igreja Nossa Senhora da Assunção. Ali reunidos, três patrimônios históricos da cidade.”

Um patrimônio belo, poético, com seus fonemas que dançam no ar, e sonoro como pássaros da mata foi exterminado. Restam focos de pesquisa esparsos e falada no Paraguai. A língua tupi-guarani, da qual origina-se caa-ça-paaba. Gostaria de concluir agradecendo e desejando boa-noite neste idioma:
Aweté Pyntun Porã.

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