Nossa
saudação ao patrono da 23ª feira do livro,escritor Airton Ortiz, aos escritores
aqui presentes, autoridades.
Nossa
saudação também ao escritor Francisco Pereira Rodrigues- um homem que ama os
livros- escritor homenageado deste ano, e que, no dia 23 de abril passado,
completou cem anos, justamente no Dia
Internacional do Livro. Um povo,uma pátria, não devem ser avaliados apenas por
sua pujança econômica, mas,sobretudo,
pela preservação de sua memória,por sua produção cultural,educacional,serviços
públicos,iniciativas comunitárias e gentileza ecológica e social.
Sem
memória não há existência, nem haverá.
.
Com
imensa satisfação, saudamos os escritores aqui presentes, guardiões e difusores
da nossa memória histórica, poética, sentimental, social, geográfica. Comungam
eles do mesmo sentimento regional das cidades pampeanas em que nasceram, e suas
relações com a América Latina, em especial com o cone sul.Produziram e produzem
obras com caráter regionalista que transcendem para o universal.
Caçapava,
Bagé, Lavras do Sul ombreadas e irmanadas na produção literária. Dentro da velocidade
dos fatos de um mundo que orbita meteórico no efêmero, dentro dos dias velozes
e fugazes, as feiras do livro da clareira na mata transformam-se em clareiras
de reflexão e demonstração de algumas das interfaces mais nobres da humanidade
: a literatura,a música,o teatro,o cinema,a cultura.
Caminhos
do sul da América cujos autores Johnatan Osório, Lislair Leão Marques, Marcelo
Spode e Maximiliam Fries nos fazem viajar e nos presenteiam com belas imagens
do Uruguai, Chile, Argentina e de nossa bela Caçapava do Sul. Caçapava tem
destaque na obra, e como escreveu Carlos Drumond de Andrade: o homem deve “por
o pé no chão de seu coração” e o livro põe o pé no chão-coração de Caçapava,
revelando, com beleza, seu patrimônio natural,cultural,arquitetônico. Em sua 2ª
edição é composto de mais fotografias e textos em português e espanhol. Em breve
será lançado em e-book.
Sua proposta é a aproximação dos povos latinos e a integração
cultural e turística de Caçapava com estes povos. Uma iniciativa inteligente
para o desenvolvimento de nossa cidade.
Luiz
Carlos Molina - bageense, produtor rural e formado em ciências contábeis, é autor de “Meu pago é assim” e “Um rastro
campeiro”- poesias escritas com alma campeira, por quem nasceu no campo e
vivenciou suas lidas e costumes. Contêm admirável vocabulário gauchesco – um
patrimônio vocabular-,rimas ricas, certeiras como a suerte do jogo de osso e
vigorosas como cavalos em disparada nas coxilhas. Na belíssima “A Estrela
D’alva e o peão”: “À noite o moço mirava o céu bordado de estrelas, e assobiava
e cantava , apreciando o Universo,pensando que o longe é perto,brincando de
namorar”... Em “Jogo de Osso”: “Feitas as jogadas na volta,a banca ordena
atirar,sai o osso se volteando, de algum braço que cimbrando , busca a sorte
prá ganhar”. “O velho Franklin” é o segundo livro de Alfredo Laureano de Brum
Sobrinho. Na Feira do Livro de Caçapava de 2012 lançou o autobiográfico“Doces
Lembranças”,escrito durante o período de permanência em uma cadeira de rodas,
acometido que foi por uma polineuropatia. O escritor é natural de Jari.
Trabalhou 30 anos na Caixa Econômica Federal, e sempre foi um apaixonado por
histórias,contos e causos. Com esta bagagem escreveu “O velho Franklin”,que é
baseado em fatos reais. É um livro de uma linguagem simples,familiar, realista,
que perpassa a vida de Franklin e nos estimula a fazer uma reflexão sobre a
vida e a solidão na terceira idade.Nos mostra ,também,o quão podemos aproveitar
pequenos-grandes momentos, como contar histórias,por exemplo. No início tem
poesia:”... janela com vistas para um jardim localizado na área lateral da
residência,de onde se podia ver flores vermelhas,amarelas e brancas,misturas de
begônia,onze- horas,sempre-vivas,jasmin e roseiras,algumas um tanto maltratadas
pelas formigas ou necessitando de um aterramento nos pés e uma poda na época
certa, para que apesar dos anos não tivessem seu aroma prejudicado, permitindo
assim que sua essência pudesse entrar na vida dos homens.”
“Os
Lírios do Alvorecer” é de autoria de Ivan Pessoa Moreira. Ivan e a poesia. “A
palavra sem algema ,eis o poema”, escreveu outro poeta: Carlos Cassel.
Foi
colaborador dos jornais A Atualidade, Folha do Sul, O Bom, Folha da Cidade e
Razão. É acadêmico vitalício da Real Academia de Letras, recebeu a Comenda
Literária Camões no 12º Prêmio Cultura
Nacional, diplomado com Menção Honrosa no 7º Concurso de Poesia Nacional,também
recebeu o Diploma de Mérito Internacional Humanitário e
Comenda da Paz. Participou de antologias do Instituto da Poesia Internacional,
Casa do Poeta Caçapavano, da Ordem da Confraria dos Poetas do Brasil e Real
Academia de Letras. Também lançou em 2012: “Florada da Alma” e “Inquietude do
Íntimo”.
Em
“Centelhas”: quem afirma que alguém é certo ou louco, por certo é um louco”; em
“Eus,meu Eu”: “Mas sou eu nos meus eus, que dormem e acordam, como um sopro de
vento”.
“Pela
Palavra Empenhada/ A Revolução de 1932”,
obra de Blau Souza e Zeno Dias Chaves que aborda a rebelião constitucionalista
de 1932 tendo como foco os fatos acontecidos no Rio Grande do Sul, que tinha
como interventor Flores da Cunha. Como em todo o governo autoritário-atitudes
também -, as discordâncias e a imprensa foram perseguidas e sufocadas.
O
Dr. Blau Souza ,natural de Lavras do Sul, é cirurgião cardiovascular em Porto Alegre, produtor rural em Lavras do
Sul,teve participação ativa em entidades médicas – AMRIGS,CREMERS e SIMERS -,
membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, da Academia
Sul-Riograndense de Medicina e da Academia Sul-Brasileira de
Letras. Médico-escritor como foram Guimarães Rosa,Moacyr Scliar, Cyro Martins,
Dyonélio Machado, Prado Veppo, José Antonio do Vale, entre muitos. José Antonio
do Vale acrescentou Caldre e Fião a seu nome, e escreveu o primeiro romance de
autor gaúcho: “A Divina Pastora”,em 1847,quando foram lançados dois volumes,
que ficaram desaparecidos por 145 anos, reaparecendo um deles no Uruguai em
1992 – relato de um artigo do Dr. Blau. Caldre e Fião tem uma história rica e
muito interessante.
Como
médico que também atua no serviço público de saúde, o Dr. Blau conhece as
imensas dificuldades inerentes a esta complexa atividade, que só pode ser
realmente aquilatada por quem a vivencia. Um sistema de saúde perverso ,não só
com pacientes, mas com quem nele trabalha. Participou
de duas antologias: a série “Médicos (Pr) escrevem” e “As Guerras dos Gaúchos”.
Com
estilo elegante, fluido e erudição transmutada em simplicidade. Em
sua produção constam textos científicos, artigos para jornais e quatro livros: “Poesia,Cotidiano e Sonho”,
“Contos do Sobrado”, “De Todo Laço” e “Uma no Cravo ,Outra na Ferradura”, este
uma fascinante aula de história gaúcha. Entre tantas, a história do pintor
alemão aqui radicado, Hermann Rudolf Wendroth.
Em
um artigo de “Medicina e Literatura”: “Na medicina de hoje ,quando a tecnologia
se hipertrofia, há necessidade de um humanismo, que dificilmente será
encontrado em tanta abundância quanto na literatura.”
Zeno
Dias Chaves, coautor de “Pela Palavra Empenhada” é um de nossos historiadores. Seu
livro “Caçapava do Sul,História , Tradição e Natureza” , nos enriquece de
conhecimentos sobre nossa história,desde os seus primórdios. O seu Zeno é nossa
memória cultural e histórica. Foi vereador por duas legislaturas, diretor da
COOPAM, Secretário Municipal de Turismo, diretor artístico e cultural e patrão
do CTG Sentinela dos Cerros, sócio fundador de diversas entidades
tradicionalistas em Caçapava e em outras cidades do estado. Também foi
coordenador da 18ª Região Tradicionalista, conselheiro do Movimento
Tradicionalista Gaúcho por 12 anos e presidente durante 3 anos.Foi patrono da X
Feira do livro de Caçapava. Profundo conhecedor de história e folclore, recebeu
o prêmio Negrinho do Pastoreio, em 1988.
Alcy
Cheuiche escreveu: “Agora fico admirando a fotografia de Zeno Dias Chaves no
seu livro e penso o quanto Caçapava do Sul deve a este filho ilustre. Sentado
no alto da muralha do Forte Dom Pedro ll, ele revela, na sua simplicidade
campeira, toda a “estampa de monarca”do cidadão gaúcho. Por detrás dele, a
igreja Nossa Senhora da Assunção. Ali reunidos, três patrimônios históricos da
cidade.”
Um
patrimônio belo, poético, com seus fonemas que dançam no ar, e sonoro como
pássaros da mata foi exterminado. Restam focos de pesquisa esparsos e falada no
Paraguai. A língua tupi-guarani, da qual origina-se caa-ça-paaba. Gostaria de
concluir agradecendo e desejando boa-noite neste idioma:
Aweté
Pyntun Porã.
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